terça-feira, 18 de setembro de 2012

A leitura como inclusão social: as camadas populares e os clássicos



Em artigo publicado no jornal A Toga, Porto Alegre, abril de 1967, Flávio Aguiar assim escreveu: “Um estudo da arte contemporânea conduzirá fatalmente a um de seus pontos mais críticos: o hiato existente entre a arte e a grande massa da população”. Passados mais de 30 anos dessa análise, olhamos para a sociedade brasileira e constatamos que o hiato não se transformou em ditongo. A analogia pode ser improvável do ponto de vista gramatical, mas é tão provável quanto necessário do ponto de vista social, se quisermos ter seres humanos menos brutalizados.
A fascinação exercida pelo texto literário é tão impactante quanto a constatação do processo excludente das camadas populares. Ao longo da nossa história somente foi permitido o acesso da população segregada a uma parcela mínima da cultura, pois a mesma, sem acesso aos bens materiais necessários para a sobrevivência, precisa abandonar os bens espirituais para prover o sustento do dia a dia.
A realidade criada ou recriada, inventada ou reinventada artisticamente, tem a propriedade de impressionar por meio de imagens sensíveis e essa sensibilização conduz a reflexões decisivas sobre conceitos de ética e consciência, inclusive com respeito à capacidade de recepção e produção das camadas populares.
É preciso ler e fazer literatura para silenciar os silêncios. 
Ousar! Esta é a palavra. Sensibilidade não escolhe proveniência social. Negar às camadas populares o direito à inclusão através da leitura é negar às pessoas a condição de seres de vontade, instigadas pelos fenômenos da vida, é privá-las do acesso à apropriação da palavra como construção da identidade.

ANA MARIA DE OLIVEIRA

    Acesso em 14/09/2012

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